O foco na classe média foi ampliado com o novo programa de reformas de moradias. E a segurança pública é vista como prioridade para o governo resgatar a bandeira da ordem
Principal estrategista eleitoral do governo, Sidônio Palmeira, ministro da Secretaria de Comunicação Social do Planalto, virou a chave do marketing oficial. O binômio União e Reconstrução foi substituído pelo novo slogan: “Governo do Brasil. Do lado do povo brasileiro”. A nova estratégia de marketing da gestão Lula aposta na comunicação digital, com aumento da verba para redes sociais e influenciadores, além da mensagem focada em soberania, justiça tributária e programas sociais. Ou seja, o governo mira as eleições de 2026.
A comunicação busca ser mais acessível e voltada para o entretenimento, usando a linguagem dos vídeos virais na internet. Há um direcionamento de cerca de 30% da verba publicitária para plataformas digitais, um aumento em relação aos 20% do ano anterior. O governo parte para a comunicação direta e polarizadora, com a mensagem de que combater privilégios é que abre espaço para o progresso social.
É aí que entram os temas da soberania nacional, que ganhou inédita relevância com o tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros, e da justiça tributária, incluindo a cobrança de impostos de grandes empresas e o combate a privilégios. Velhos programas como o Bolsa Família, o Pé-de-Meia e o Farmácia Popular, que beneficiam mais de 3,5 milhões de famílias, estão sendo rebobinados.
Bandeira da ordem
O foco na classe média foi ampliado com o lançamento do novo programa de reformas de moradias. E a segurança pública é vista como prioridade do governo, com objetivo de resgatar a bandeira da ordem, sobretudo nas cidades, onde a territorialização do crime organizado e a escalada de roubo de celulares, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo, saíram do controle. Virou uma patologia social.
O Programa Reforma Casa Brasil, lançado nesta segunda-feira por Lula, é uma nova política habitacional, desenvolvida pelos ministérios das Cidades e da Fazenda, em parceria com a Caixa, com um duplo objetivo: melhorar a qualidade de vida das famílias com renda até R$ 9 mil, da porta para dentro, e movimentar a economia local, com geração de emprego e renda na cadeia da construção, dando forma à autoconstrução.
São famílias que já têm imóvel, mas enfrentam problemas estruturais ou de adequação, como telhados danificados, pisos comprometidos, instalações elétricas e hidráulicas precárias, falta de acessibilidade ou necessidade de ampliação. O programa terá R$ 30 bilhões do Fundo Social. A Caixa também vai separar R$ 10 bilhões do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) para rendas superiores a esse limite — totalizando R$ 40 bilhões em crédito.
O governo também faz um tour de force no Congresso para aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, que visa reformular o sistema de segurança pública no país e criar um modelo semelhante ao do Sistema Único de Saúde (SUS). O conceito de um sistema único de segurança já existe desde 2018, com a Lei nº 13.675, protagonizada pelo ex-ministro Raul Jungmann. A PEC apenas eleva esse modelo ao texto constitucional.
A proposta é fruto de um amplo diálogo com governadores, secretários de segurança pública, especialistas e a sociedade civil e busca consolidar um modelo estruturado, coordenado e com financiamento garantido. A PEC da Segurança Pública surge como uma solução para mitigar os efeitos da violência em todo o país. Com a aprovação do texto, o Sistema Único de Segurança Pública (Susp) ganha status constitucional e servirá de base para a integração das forças de segurança em nível federal, estadual e municipal.
Os Fundos Nacional de Segurança Pública (FNSP) e Penitenciário Nacional (Funpen) garantirão que os recursos sejam divididos de forma justa entre todas as unidades federativas e os municípios do Brasil, além de manter um repasse contínuo e estável. Outra medida proposta é a criação do Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, que garante a participação da sociedade civil nas tomadas de decisão.