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Das 28 vítimas de feminicídio em Mato Grosso, apenas duas tinham medida protetiva

Das 28 vítimas de feminicídio em Mato Grosso, apenas duas tinham medida protetiva

Entre janeiro e junho de 2025, 28 mulheres foram assassinadas em casos de feminicídio em Mato Grosso, conforme dados do Observatório Caliandra, do Ministério Público do Estado (MPMT). Dessas vítimas, apenas duas contavam com medida protetiva contra o agressor, e somente quatro haviam registrado boletim de ocorrência antes do crime. Ou seja, a maioria das mulheres assassinadas não havia acionado formalmente as autoridades antes do desfecho trágico.

O feminicídio é caracterizado pelo assassinato de mulheres motivado por violência de gênero, geralmente no contexto de violência doméstica ou discriminação, e representa uma grave violação dos direitos humanos.

Ainda segundo o levantamento do MPMT, a maioria das vítimas era parda ou preta, e uma parcela pequena, de apenas 14,3%, possuía ensino superior. As faixas etárias mais atingidas concentram-se entre os 25 e 29 anos, e entre 40 e 44 anos. Os dados também revelam que metade dos crimes foi cometida por companheiros que conviviam com as vítimas. Os outros casos envolvem namorados, ex-namorados, familiares ou homens sem relação direta com as mulheres.

A maior parte dos assassinatos aconteceu dentro da própria casa da vítima, o que demonstra o quanto o ambiente doméstico ainda representa perigo para muitas mulheres. Em quase metade dos casos, os autores usaram armas brancas, como facas, facões e canivetes. Outros crimes foram cometidos com armas de fogo, por asfixia, ou utilizando objetos contundentes.

Ciúmes, sentimento de posse e machismo estão entre as principais motivações dos feminicídios, além de discriminação à condição da mulher e reações violentas diante de tentativas de separação ou rompimento.

Os números do primeiro semestre do ano revelam ainda uma triste consequência: 44 crianças ficaram órfãs após perderem as mães vítimas de feminicídio em Mato Grosso. Durante todo o ano de 2024, esse número chegou a 83 crianças. Na capital, Cuiabá, a prefeitura oferece um benefício mensal para crianças que ficaram órfãs em decorrência desses crimes, contribuindo com despesas básicas, como alimentação e material escolar.

Para tentar combater esse cenário, o estado disponibiliza o aplicativo SOS Mulher MT, que oferece o botão do pânico virtual, uma ferramenta de socorro rápido em caso de descumprimento de medidas protetivas. O recurso já funciona em Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres e Rondonópolis, e o aplicativo também permite acessar telefones de emergência, delegacias especializadas e realizar registros de ocorrência online.

Neste ano, o uso do SOS Mulher MT cresceu significativamente. Houve aumento no número de downloads e acionamentos do botão do pânico, o que mostra que a ferramenta está se consolidando como um recurso de apoio às vítimas. Porém, os dados revelam que o desafio continua grande, especialmente para ampliar o acesso à informação, à proteção e evitar que mais vidas sejam perdidas.

Casos de violência doméstica podem ser denunciados pelo telefone 190, em delegacias físicas ou através da Delegacia Virtual.

Por Andreza Martins 

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